terça-feira, 12 de agosto de 2014

Omar e Nadia.

Fui ao cinema ver um filme palestiniano. Omar. Gostei muito. Acaba surpreendentemente mal, sem esperança para a personagem principal, a quem nada corre bem. 
Com quem nos identificamos, como sempre nas boas histórias. 

Passa-se na Cisjordânia, o que permite perceber como é o dia-a-dia duma terra ocupada. Imaginei aquelas ruas, casas, famílias, rapazes e raparigas em Gaza mas agora com tudo destruído pelas bombas. 
Dá para confirmar o que sabemos. O ódio acumulado anos e anos em ambos os lados... Como recomeçar?

Chego a casa e vejo as notícias na BBC World e na Aljazeera. 
Não são boas. Guerra e mais guerra. 
Guerra na Europa. 
A Ucrânia é Europa e a Rússia prepara-se para a invadir, indiferente às ameaças tardias sem credibilidade de Barroso... Famílias, mulheres, crianças fogem em carros antigos atulhados de malas. Há expressões de perda, dor, lágrimas.

Em Moscovo, há filas de horas em lojas de luxo para comprar t-shirts com a cara de Putin. Merchandising moderno do presidente megalómano dum país que sonha expandir-se. Voltar às antigas fronteiras? Há orgulho naquela gente pela ocupação da Crimeia. Até o Mickey Rourke aparece de t-shirt com o Putin! Atenção ao "coolest world leader"!

No norte do Iraque é o caos. Os avanços do auto-denominado Estado Islâmico são visíveis e estão perto de Bagdad. E avançam na Síria. Obama desilusão quer apoiar o novo governo iraquiano, ajudar por ar. Oiço um  general dizer que sem forças em terra... Que embrulhada. 

Uma mulher representante dos curdos no Reino Unido diz que isto se teria evitado se os EUA e a EU tivessem intervido na Síria. Parece-me acertado, assim do pouco que sei.

Iraque e Síria. Mais guerra. Há armas e tanques americanos nos radicais islâmicos... Outros tempos. 

Mais e mais refugiados. Pessoas, famílias, crianças em lágrimas que fogem, entram em camiões e helicópetros à pressa, sem nada. Cometeram o crime de terem ali nascido e ter uma religião diferente. O crime de existir.

Bebés saem de escombros vivos mas feridos para sempre... Em Aleppo, Síria.

No Egipto, tenta-se negociar tréguas para a Palestina. Mas impede-se a entrada duma organização de Direitos Humanos que pretendia visitar os jornalistas condenados a prisão por fazerem jornalismo.

Nos mares de Gaza, pescadores tentam a sorte para alimentar as famílias. A água é rica mas o bloqueio de Israel não permite profundidade. Um pescador grita que a economia está destruída e há fome.

Em todos estes locais, as reportagens que vejo, são feitas por jornalistas no terreno. Mulheres e homens. Em Gaza, no Iraque, na Ucrânia, na Síria. Em África onde a ébola veio ajudar o cenário de morte. Morte entre os mais pobres dos pobres, como na Libéria.


Os olhos de medo das crianças são todos iguais em qualquer destes sítios. As lágrimas das mães e dos pais são iguais em todo o lado. A dor da perda da casa, da terra, do lar, dos seus, mortos, a perda da pertença numa fuga para um futuro incerto é igual.
O mar é azul ou verde, igual em todo o lado. As montanhas verdejantes ou áridas, também. 

Parece que foi John Kennedy que disse que "A humanidade tem de acabar com a guerra antes que a guerra acabe com a humanidade". 
Omar e Nadia só queriam casar e ser felizes.

2 comentários:

  1. Olha, acho que isto é mesmo um bom retrato do nosso tempo. Onde até as coisas simples, como casar e ser feliz, se tornaram complicadas. E aquelas mesmo básicas, como o sorriso de uma criança, se transformam quase num milagre, nalguns locais do nosso planeta.

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  2. A realidade,infelizmente,é assim horrível tal como a descreves no texto que escreveste.

    Mas no meio deste horror ainda há muita gente pronta para ajudar e não ficar calada...

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