terça-feira, 8 de março de 2016

Das Mulheres.



"We are not for sale" é a frase que tenho sobre a imagem de fundo do meu perfil do facebook. 
A imagem dos olhos de uma jovem africana, talvez uma dessas adolescentes sem direito à vida, à liberdade, aos direitos básicos de um ser humano. Porque nasceu mulher.

Faz quase dois anos que lá a coloquei a propósito do rapto de 300 jovens mulheres na Nigéria. Não se sabe delas. Abandonadas à sua sorte, violadas, escravizadas, mortas.

Como elas, muitas outras ali ou noutros pontos do mundo continuam a sofrer apenas por serem mulheres.

Neste dia, infelizmente cada vez mais necessário para chamar a atenção para a desigualdade, a exploração, a escravatura a que são sujeitas milhões de mulheres no mundo e não para celebrar a igualdade de direitos, não consigo deixar de lembrar as mulheres refugiadas. 

Que fogem da guerra, desesperadas com os filhos pequenos ao colo, ao seu cuidado. Que sofrimento será esta vivência.


Olho à volta neste 8 de Março e sinto que regredimos. A sociedade toda. 

Mesmo no mundo ocidental civilizado, onde supostamente teríamos uma situação profissional e pessoal idêntica à dos homens, parece clara uma paragem do progresso encetado há mais de 150 anos por mulheres como as da foto.


Revejo, releio uma nota minha de há um ano atrás neste blogue. Mantém-se: metade das mulheres do planeta ou mais, não podem existir como seres humanos. 

Os factos conhecidos, divulgados por organizações independentes assim o confirmam: falta de acesso à educação, excisão, falta de acesso ao trabalho igual ao dos homens, falta de liberdade para vestir, guiar, andar sozinha na rua, etc. 

Não é só no Islão, também fora dele. Não tenho nada contra o Islão que não tenha contra outras religiões. 

As religiões têm sido a base da falta de direitos das mulheres.


Há excepções, como em todos os casos. As mulheres kurdas são mulçumanas e lutam, de igual para igual contra o ISIS, cara destapada e armas na mão.

São as excepções que nos dão esperança e confirmam que é possível a igualdade.

Defendo a liberdade total, ou seja, a liberdade de pensar, ser, escolher, viver para todos os seres humanos, homens e mulheres, e isso, estamos longe de ter no mundo actual, apesar de todo o progresso.

Uma coisa sei. Não podemos desistir nunca!

Devemos isso a todas as mulheres que, até hoje, lutaram pela igualdade, se afirmaram pelo valor do seu trabalho, não se deixaram mandar, bater ou escravizar, a todas as mulheres que pensam por si e são livres.

Devemos isso a todas as pequenas atitudes que fizeram a diferença para chegar às grandes mudanças.


quarta-feira, 2 de março de 2016

Umberto Eco



A obra de Eco fez parte da minha vida e, desde há uma semana, quando soube da sua morte, pensei escrever alguma coisa sobre isso. 

Houve até um dia em que fui à estante procurar todos os livros seus que li e os fotografei para depois ilustrar essas palavras. Mas acabei por não ter oportunidade. 

O que afinal queria dizer, disse-o com a assertividade e a mestria habituais a Ana Cristina Pereira Leonardo na revista do Expresso: "(...) o seu desaparecimento significa o empobrecimento do mundo, e não enquanto frase gasta de retórica, mas porque é mesmo um mundo que desaparece: um mundo povoado ainda pelo que restava da figura intelectual do século XX, culto, interventivo, universal e estimulante". 

Sempre gostei de Eco, de o ler, quer fosse romance histórico ou outros escritos, como a semiótica.

Citando ainda a Ana Cristina Leonardo, "(...) a resistência à imbecilização do mundo ficou mais difícil com a sua morte".

E o mundo já está muito difícil.