domingo, 28 de junho de 2015

À volta, no Verão.

Que saudades sinto de escrevinhar aqui e ali, estar sempre a par, comentar, não deixar passar nada mas o tempo é finito. Estou envolvida em demasiadas coisas? Talvez. 

A velocidade dos acontecimentos também não ajuda. O texto dum dia, se guardado para revisão e acabamentos, fica ultrapassado num instante.

E que dias estes. 
Uma semana corresponde a um mês antigo, ou talvez mais. 
No domingo passado estava fresco, muito mesmo, havia esperança num acordo com a Grécia, uma ilusão ainda na possibilidade da a Europa ser uma união, os atentados terroristas na Tunísia, Koweit e França não tinham acontecido. Tal como as sinistras execuções do exército islâmico no Iraque e na Síria, reforçando o horror em novas formas de maldade na morte. 
Cada vez mais perto.

O Verão vai andando, esplêndido em luz e calor, mas nem o optimismo dos dias grandes consegue abrandar a preocupação que sinto com as perspectivas do mundo. Começa a parecer inevitável a catástrofe, o declínio, a guerra, a dor, a morte.


Revolta-me a inoperância dos mandantes e a impotência dos mandados.
A história repete-se perigosamente. Como se todo o conhecimento do passado, todos os alertas, comentários, factos - factos, que factos! - não servissem absolutamente para nada no caminho do precipício.

Observa-se as forças em presença, as atitudes e os comportamentos, a insistência nos erros e parece que poderia ser evitável este caminho. Mas nada muda.

Nós, os habitantes deste território - falo do país, da Europa, do Mundo - que não temos o poder, assistimos, paralisados, ao nosso destino, como se não fosse possível fazer para mudá-lo.

Os decisores actuais não sabem como agir, ou simplesmente não procuram saber, fogem, metem a cabeça na areia, esperando que uma força divina resolva. Mas essa força não existe. E nós, os números que supostamente somos a razão de tudo, também não sabemos como agir.

Os donos do mal progridem. Sejam os mais ferozes defensores do capitalismo financeiro, sejam os mais sanguinários assassinos em nome dum totalitarismo bárbaro. 
Em ambos, apenas conta a lei da força imposta a todo o custo, pelo terror, pela morte, pela asfixia. Uns praticam o horror mais imediato e básico, outros um mais sofisticado e demorado.

O que os move? 

Não adiantam todo o desenvolvimento tecnológico, todo o progresso, todos os avanços da ciência, toda a educação, tal como não adiantam este sol fantástico. Ajudam a amenizar, sim, a fazer-nos esquecer, a adiar. O mesmo azul esplêndido de Verão que não salvou as pessoas que apanhavam sol nas suas férias à beira-mar na Tunísia.

Ontem, estava na praia, num dia magnífico, a pensar nessas pessoas. Se aparecesse ali alguém a disparar indiscriminadamente, não haveria defesa possível, abrigo, fuga. A nossa fragilidade é brutal. Assusta.

Está mesmo muito calor hoje. 
É domingo à tarde, bebo água fresca, em casa, à sombra. Oiço a Norah Jones, baixinho. Espero o fim da tarde para ir dar uma volta de bicicleta. Talvez antes vá petiscar uns caracóis, beber uma cerveja, sentir o vento. Ver o sol a pôr-se no horizonte, o céu laranja e roxo. Depois sentir o fresco do anoitecer.

Tudo coisas simples mas que em demasiados sítios do mundo, demasiado perto, não poderia fazer!


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Jacarandás que nos salvam




Há dias em que tudo parece desmoronar. Dias difíceis que é preciso contornar. 

Em geral, a seguir a um desses dias segue-se um melhor e tudo parece outra vez viável.

Desde miúda, resultado da minha educação fortemente católica, que quando me sinto feliz - ou o mais aproximado disso -, pressinto a possibilidade de vir a acontecer uma coisa má, qual punição. 

Desde sempre que vivo com esse sentimento de culpa quando estou bem, nos momentos felizes. 

Sei que é uma estupidez mas é algo que depois acaba por se confirmar.

A vida faz-se assim de altos e baixos. Felicidade e infelicidade. Harmonia e desarmonia.

Os dias têm passado velozes entre a irregularidade da vida e o improvável que acontece.

Marcados pela beleza dos jacarandás em flor de Lisboa. 


Lisboa azul e lilás ao olhar para cima. Lisboa cinzenta e lilás ao olhar para baixo. 

Ando a ver se não escorrego. 

Na calçada portuguesa, claro, sempre com pedras soltas, aqui e ali. Como a vida.

E, nos dias maus, temos os jacarandás... para nos salvar.