quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Véspera.

Estava aqui no sossego da minha sala a trabalhar quando o telefone fixo tocou. Dei um salto, admirada com o toque. Praticamente não recebo telefonemas neste número. Mantenho-o porque faz parte do pacote.

O número começava por 22. Era, portanto, do Porto. Já tocara de manhã mas não cheguei a tempo. Atendi. Um jovem com acentuada pronúncia do norte disse ser da Meo. 

Antes, tive esperança que fosse uma sondagem, uma tracking poll, um barómetro, algo em que pudesse exprimir a minha opinião.

Não era. A mim nunca me sondaram. Nunca, que diabo. Era um jovem da Meo a oferecer serviços de televisão. Já tenho. Mas está satisfeita? Estou. Mas pode ajudar-me com outra coisa. Expliquei rapidamente a questão relacionada com os GBs no smartphone. Não era com ele mas podia indicar o número 16209. Ele era dum call center no Porto. Perguntei o nome e a idade. 20 anos e estava em formação. Calculo que não possa responder mas quanto ganha? O rapaz dizia "vocemecê" e respondeu que não podia dizer. Tolo não é.

Desejei-lhe sorte e desliguei. Desgraçado. Ainda assim estará provisoriamente fora da percentagem de 31,8% (116 mil jovens entre os 15 e os 24 anos) de jovens desempregados neste Agosto. Caramba, é muito. Praticamente um terço da população jovem.

Apetecia-me ter aproveitado para fazer eu um questionário. O que sabe do país, de política? Vai votar? O que sonha para o futuro? O que pensa fazer para o realizar?

Ainda ontem fiquei assustada com o nível de iliteracia política (só política? duvido) dos jovens. É certo que se tratava de uma reportagem de rua do Canal Q mas a ignorância era aflitiva. Conhece a Catarina Martins? Não. E é capaz de votar no Páf? Sim. E no CDS_PSD? Não, isso nunca. Mas vai votar? Não sei, talvez. Versão resumo rude sobre uns poucos jovens apanhados na rua. 

Teria este rapaz com pronúncia do norte barba como todos agora? Uma autêntica praga. Homens bonitos estão medonhos com barba. Já não se trata só daquela penugem pseudo-trendy e sexy de três dias. Não, uma barba grande e aspra que emagrece as faces, acentua a falta de beleza ou anula-a, conforme os casos. 

O país é de quem cá vive, penso. Até dos que usam barba :)
Não se pode não participar, não querer votar. Vendo bem, é o grande momento em que contamos. Com o nosso voto. Em que fazemos a diferença, seja qual for a opção.

Muitos, desencantados com os políticos e as sucessivas governações dizem que não vão votar porque não acreditam em nenhum político. Este cepticismo não se deve materializar na abstenção, na ausência de posição. Antes num interesse maior. Não existe outro sistema melhor, vivemos neste e ele implica com todo o nosso dia-a-dia. Não há vida à parte da sociedade mesmo que se seja eremita...


Para além de todas as medidas de austeridade e de destruição da democracia (acesso gratuito à educação, à saúde e à justiça, por exemplo), o que mais me indigna e revolta nestes senhores que nos governam é o desprezo total pelas pessoas. Pelas pessoas mais frágeis e mais pobres. 
O materialismo extremo. O diz que disse e o passa culpas permanente. A mentira como metodologia. A ausência de valores. A propaganda do medo e da subserviência. A mediocridade.
O que está em votação é o querer ou não a continuação desta violência psicológica que destrói aos poucos qualquer tentativa de integridade, de bem, de solidariedade ou conforto.
Gostei de ler a Luísa Meireles no Expresso "E já só faltam quatro dias..." que recomendo. 


1 comentário: