quarta-feira, 28 de maio de 2014

Refúgio.

Nos fins de semana, quando estou no campo, gosto de fazer passeios de bicicleta ou a pé. Apesar de estar perto de Lisboa em quilómetros, é como se estivesse muito longe.

A distância é suficiente para um estilo de vida diferente em que o tempo é passado quase todo ao ar livre. Ou à beira do fogo, lá dentro.
Há sempre coisas para tratar cá fora, num espaço meio pátio meio quintal. É abrigado por muros altos de cal que protegem do vento mas abafam nos dias de calor. Estes muros permitem estar bem ao sol nos dias de frio moderado.

É uma casinha numa travessa no centro duma pequena vila no Ribatejo que encontrámos por acaso num domingo de Inverno há três anos. 
Estava para alugar. Era a única na altura. Foi mesmo antes do anúncio da crise.

Era a possibilidade de concretizar um sonho que sempre tive. Muita gente herda algo assim e arranja. Mas eu não. 
Dependendo só de mim e do meu trabalho, só nesta altura surgiu esta hipótese.
Ter um espaço fora de Lisboa, tradicional. Rural, pequeno, abrigado, um refúgio. Onde pudesse descansar e receber os amigos.
Era na terra da família do Zé. E podia partilhá-lo e construí-lo com alguém.
A situação já era adversa mas sempre fui de avançar e avancei. 

Adoro fazer do nada. Adoro casas, imaginar como as transformar e pôr ao meu jeito. 
E foi assim. Pegámos naquela base e fizemos a casinha a que chamamos casalinho que é o nome da travessa onde se situa.

Um resumo possível.
Foram uns anos felizes. De pouco descanso e muito trabalho. De muito prazer e fazer acontecer. Uma salvação para a vida louca dos meus dias de semana. 

As memórias são todas boas. Quantas fotos e textos publiquei sobre o caminho das oliveiras percorrido quantas vezes. Com calor abrasivo, com frio de rachar, com chuva, quase de noite, a pé, de bicicleta.
Quantos petiscos criámos e vinhos bebemos?
Tenho o meu pinheiro e a minha serra que marcam a paisagem. O Montejunto é lindo e está sempre lá. Tudo seria diferente sem ele.
Os nossos telhados continuam a ser dos gatos que nascem, selvagens.

Gosto do casalinho, da casinha, dos vizinhos, dos caminhos, da terra e das terras, do Tejo e da lezíria. 

Podia ter mais dinheiro no banco que agora seria importante mas não teria vivido tudo isto. Talvez não possa continuar muito mais tempo. 
Mas valeu a pena. Mesmo.

(Não pensava escrever nada disto quando me sentei depois do almoço e após um começo de cólica renal inesperado, como todos, aliás. Precisava de algo leve para ver se a dor passava. Não passou completamente e o  tema complicou-se. Não sei porque o partilho...)

4 comentários:

  1. O dinheiro gasta-se mas ficam as memórias das vivências que ele nos proporcionou. Esta malvada crise é que não estavam nos planos e impedem-nos de concretizar alguns dos nossos sonhos.

    Haja saúde. As melhoras bjo

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  2. Espero que a cólica já tenha "voado"...
    Gostei muito do texto...está lindo!

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  3. Também eu usufrui de alguns desses bons momentos no casalinho.
    Por esses e muitos outros que temos e se Deus quiser compartilharemos obrigada.



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  4. Acho que fazes bem, Cristina. Aproveita bem esse refúgio que alimenta a alma. As melhoras. Bj

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