quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A responsabilidade.

Fui educada na e para a responsabilidade.
Ou seja, assumir a responsabilidade por erros e asneiras. Ter humildade para pedir desculpa. Ser capaz de recomeçar. Nunca deixar de assumir a responsabilidade por um erro de pessoas da minha equipa ainda que nem soubesse de nada, o que quer que fosse.
Foi assim que sempre agi e conduzi a minha vida, pessoal e profissional.
Algumas vezes, paguei pelos erros de outros que chefiava mas sempre achei e acho que é o que faz sentido.
No entanto, parece que os tempos são outros.
A frase mais ouvida pelos membros deste governo é "eu não me demito". O exemplo vem do primeiro-ministro, primeiro responsável. Seguiram-se os outros.
Recentemente foi a vez da ministra da justiça pedir desculpa pela brutal falha do sistema judiciário. Este pedido veio cheio de falta de sinceridade, deve ter resultado de pressões nos bastidores... Falta de humildade e omissão da verdade/realidade, dominantes neste governo. Sem grandes disfarces. Ou preocupações de imagem.
As palavras não existem sem a expressão do rosto, o olhar ou a atitude geral. Neste caso, toda ela dizia o contrário. Trata-se apenas de um transtorno.


É evidente a teimosia e a arrogância. Claro que uma boa dose de resiliência é necessária para levar a cabo uma reforma desta dimensão. Mas não ouvir e não ser rigoroso estraga tudo. A ministra foi avisada no início do mandato do estado periclitante do sistema informático da Justiça, da necessidade de o mudar. Não ouviu.
E os fornecedores? Onde andam? O que têm a dizer? Devem estar obrigados ao silêncio e ser também muito incompetentes. Porque migração de dados, com esta dimensão, não é propriamente uma novidade.
É nos momentos, em que se dá a cara pela mudança, arriscando tudo, que tem também que se assumir a responsabilidade pela falha, colocar o lugar à disposição, já que não se tem perspectivas de solução eficaz.
Este é só um exemplo da crise de valores e princípios éticos que dominam a sociedade actual.
Neste caos de empurras (24h depois o ministro da educação pediu desculpa e culpou um seu director que, este sim, apresentou demissão), afirma-se, desmente-se, volta-se com a palavra atrás, continua-se haja o que houver.
A excepção extrema são os treinadores de futebol, sempre dispostos a assumir as derrotas com a saída do cargo.
Longe vão os tempos de uma Leonor Beleza ou dum Jorge Coelho. Goste-se ou não, assumiram as suas responsabilidades pelos erros dos ministérios que comandavam. Ou o caso fresco do líder do governo escocês que, tendo assumido a luta pela independência da Escócia e perdido, se demitiu, apesar do aumento da votação no sim.
A gravidade da desresponsabilização dos dirigentes tem a ver, acima de tudo, com os valores que passam para os mais novos, para quem se está a formar. Os valores, ou a ausência deles, que vão ser os dos futuros responsáveis do país e das empresas.
Não sei se ainda é possível corrigir alguma coisa. Temo bem que não...

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