segunda-feira, 15 de setembro de 2014

48 horas.



Dois dias fora, com acesso condicionado à informação. Apenas. Dois dias noutro mundo. Num paraíso. Se fosse possível ficar por ali, sem saber nada do mundo, inspirando a natureza, sem programa que não seja viver, sem profissão nem obrigação, sem pressão, seria capaz de continuar? Não sei. 

Tenho dificuldade em estar desligada, em não saber o que se passa por cá e por lá, o que é tudo a mesma coisa... má. 

Tenho dificuldade em não saber. Preciso sentir, opinar, reagir e agir, falar, barafustar, indignar-me. 

Mas que soube bem, muito bem, soube. Que apetecia mais. Que me passou pela cabeça mudar radicalmente de vida. Dar o passo. Romper. Arriscar. Sair definitivamente do sistema. Marimbar no mundo. Fugir. Ficar parada à espera do sol. Esperar o Inverno e depois a Primavera. Curtir o Verão. Com ou sem sol.

Dois dias sem acesso. A rede não suportava downloads nem grandes conversas. 
No café mais próximo, no sítio onde um cruzamento de caminhos converge as gentes que habitam aquelas terras, só existe o célebre Correio da Manhã. 
Sim, há televisão. Em todo o lado. Em casa também mas não a oportunidade de a ver. Ainda bem.

A família estava primeiro. O objectivo dos dias foi mesmo rever pessoas que gostamos. 
De quem temos saudades. De falar. De estar, simplesmente. 

À volta da mesa. Com generosidade de quem faz e serve. Com espaço, com copos, com comida boa. Com risos. Com recordações dos ausentes e doutros encontros que ficaram sempre. Lembraste daquela vez, em 84? 


Por muito que se prolonguem, estes momentos bons acabam. As viagens de regresso têm sempre um silêncio triste. Sabemos ao que vimos.

A segunda circular pareceu-me uma loucura, tal o movimento. Desabituei-me em 48 horas? 
As notícias, finalmente acedidas, trazem mais incerteza e dor. O mundo desaba. Continua o caminho incontrolável da violência sem soluções realistas para o parar, a não ser com mais violência...

O país piora todos os dias. Mais passos na desagregação do conhecido. Nada é estável. Nem a mediocridade do poder.

Sinto-me tonta. Não sei o que tenho.
Acordo cedo. Meto-me a caminho para a minha volta matinal pelo estádio universitário acreditando que a chuva vai esperar. Esperou. Desabou depois. 

Até na minha caminhada nada é estável. 
O estádio universitário não está com a tranquilidade desportiva habitual. Grupos de "corvos" humanos gritam, agitando bastões e palavrões. Jovens rapazes e raparigas, sentados no chão em subserviência total, ouvem o programa de imbecilidades e inutilidades que os espera. Aceitam. Estão ali, estupidamente. Uma das minhas indignações.

Regresso com os meus pensamentos. Vejo o caminho da manhã de ontem. Também chovia mas em liberdade.



3 comentários:

  1. partilho do mesmo sentimento. é sempre difícil regressar! mesmo que seja ao nosso Lar!

    ResponderEliminar
  2. Nesses dois dias que descreves é que eu senti como o meu Algarve,que eu deixei,é tão diferente.As cores, o azul do céu, o modo de viver.
    Como é que eu fui capaz?!...

    ResponderEliminar
  3. quantas vezes já tive vontade de sair de Lisboa...começar de novo...

    ResponderEliminar