terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Sem poder, sem futuro.

Este pensamento assalta-me há muito. Nós, os nascidos no ano de 1960, ficámos entre duas gerações, a anterior e a posterior e não conseguimos chegar ao poder.
Falo de todos os tipos de poder, político, empresarial, artístico.

Quando indago a idade de pessoas que, aos meus olhos, aparentam ter a minha, ou são mais velhas ou mais novas. Numa passagem rápida por gente conhecida, é fácil perceber isto, em todos os sectores. Se vamos para artistas plásticos, nasceram nos anos cinquenta. Os gestores ou têm sessenta e mais ou andam pelos quarenta, não passam dos cinquenta.
Os que eram jovens promissores nos idos de 70/80, como o MEC ou o Miguel Portas, são mais velhos. O outro mano Portas, é mais novo. Escritores relevantes da actualidade são em geral uns anos mais novos, ou então, da geração anterior, que nasceu nos anos 50. Por exemplo, a Assunção Esteves tem uns 58, tal como o Rui Reininho. Os Xutos também nasceram antes ou depois. E por aí...

Não tenho um estudo para me apoiar. Tenho apenas a minha percepção. Esta reflexão pode ser um disparate. As generalizações em geral são e eu não sou socióloga.

Quem nasceu em 1960, nem mais nem menos, ainda tem memória do Estado Novo. O 25 de Abril acontece quando temos 14 anos. Nessa altura, era raro quem não se metia na política ou não vivia intensamente os tempos de mudança. Com 15 anos, li “O Capital” de Karl Marx e discuti o materialismo dialéctico como se soubesse alguma coisa de tudo.
Vivia-se uma esperança imensa numa sociedade melhor e mais justa que parece quase impossível passados 40 anos.


Estudámos q.b., livres do vício aditivo dos mestrados e doutoramentos que dominaram as gerações seguintes. O quê? Não tens um MBA?!? Como não?!

Vivemos uma crise que também então contou com o FMI. 1983, o ano em que acabei o curso. Não havia emprego. Não consegui dar aulas. Não havia a obsessão da carreira. Fiz várias coisas e fui ter à publicidade e à comunicação por puro acaso.

Diluimo-nos por aí, com o passar do tempo. 

Percebemos que a vida pode ser boa, fora do circuito do poder. Viajar, ler, comer e beber, ter bons amigos, bom sol, bom mar, bom campo, boa vista, boa música. Ir adiando as doenças inevitáveis. 

Quem foi assumindo a liderança do país a vários níveis, foi a geração nascida nos anos 40 e 50. Depois, passou para os nascidos em 70 ou 80. Num instante, ficamos out. Ainda novos, somos velhos demais para o mercado.

Os nossos filhos formaram-se mesmo antes de rebentar a grande crise,esta, ou estão a fazê-lo agora. Sem futuro. Têm que emigrar para se safarem ou ficar por cá, amparados nos pais e avós. Os que conseguem trabalho ganham pouco incluídos já no novo modus vivendi do país. 

Nós, os nascidos em 60, estamos a recomeçar. Somos capazes. Vamos fazê-lo reinventando o trabalho. Sem poder, sem luxos, sem futuro. 


4 comentários:

  1. Gostei. Talvez tenhas razão quanto a esta análise geracional, mas provavelmente há uma explicação matemática para o assunto, ou seja, as gerações não podem ter acesso a tudo por igual, tem a ver com ciclos de desenvolvimento social. Mas lá que há sempre alguns que se lixam, com maior ênfase nalgumas gerações...isso é verdade. "sem poder, sem luxos, sem futuro" é um bom slogan para qualquer coisa, não sei bem o quê.

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  2. Como te entendo.

    Hoje, vivo entre o passado que quis esquecer e um futuro que a cada dia que passa mais se assemelha ao passado que não esqueci.

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  3. Mesmo assim acho que a geração dos nosso filhos e netos está muito pior que nós...Nós ainda conhecemos "os bons tempos", brincamos na rua, aprendemos com os outros e com os nossos "incidentes" e "acidentes", crescemos saudáveis e sem grandes preocupações, arranjamos emprego, tornamos-nos independentes dos nossos Pais e Avós, compramos casa, carro, vivemos uma vida a poder viajar, comprar, experimentar, vivemos a vida!
    A geração de 50, em Portugal, era a que já tinha idade para fazer algo de diferente e importante após o 25 de Abril 74 e a geração de 70, 80 passam pela vida cheios de stress, doenças, AVCs e problemas cardíacos, e muitos nem conseguem sair de casa dos Pais ou Avós...
    Acho que a nossa geração foi a que teve mais sorte e apesar de estarmos a viver um mau bocado agora, trazemos uma vivência que nos ajuda a continuarmos a sermos capazes, resilientes e felizes!

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    1. Olá, Vanda! Sim, acho que tens razão. O que gozamos já não nos tiram :) Os miúdos estão piores... Bjs

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