sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Sem luxos



Ando deliciada a rever, todas as noites, por volta da meia-noite, na Foxlife, a série "O sexo e a cidade".
Sempre fui fã, desde o início… há uns vinte anos? Identifico-me com um bocadinho de cada uma daquelas mulheres, sobretudo na sua forma de pensar a relação entre homens e mulheres. E Nova Iorque, quem pode não a amar?
Aqueles episódios pouco têm a ver com os dois filmes realizados mais tarde em que o excesso absurdo de luxo desacreditava as personagens. Para vestir exclusivamente grandes costureiros, sem repetir, seria necessário que estas quatro mulheres fossem milionárias. Pelo seu trabalho apenas, não o conseguiriam.
De qualquer modo, na série, apesar de vestirem como qualquer de nós alguma vez sonhou, não há este exagero. Apesar dos sapatos Jimmy Choo de Carrie Bradshaw.


Foi engraçado reencontrar esta série, por acaso, ao fazer zapping, nesta fase da minha vida. Neste momento, não posso arriscar gastar um tostão fora do essencial. Mesmo ter aquilo a que chamo um "momento de alucinação". Ou seja, fazer uma compra de roupa ou acessórios, extremamente cara, como o que há muitos anos me fez adquirir um sobretudo na Max Mara que uso todos os Invernos.

O mais interessante tem sido constatar a evolução do que sinto. Bem me avisaram que três meses era o período para nos distanciarmos do passado e nos adaptarmos ao novo modus vivendi.

Quando fiquei sem emprego, a minha consciência ditava que não podia entrar num centro comercial, descer a Av. da Liberdade e olhar para as montras ou percorrer o Chiado sem ser a olhar o céu. Ainda a quente, cometi um ou outro pecado... Mais uma mala desnecessária, apenas de outra cor, um vestido no material da moda, feito certamente na China, com a desculpa de fazer anos, um novo creme para encerrar o passado. Sofria ao entrar numa loja e a única maneira de evitar uma asneira era não entrar em lado nenhum. Em particular, nos sítios onde os preços são relativamente acessíveis, grande perigo. As Max Mara’s e outras do mesmo nível há muito que tinham deixado de estar na lista. Restava ainda a Hoss Entropia onde comprei uma gabardina o ano passado.



Ontem, experimentei um novo estado que me provocou verdadeira felicidade interior. Como uma pequena vitória que só nós saboreamos.
Acompanhei a minha irmã a uma loja onde a nova colecção deixa qualquer mulher de água na boca, os preços são acessíveis, as opções imensas. Na sua elegância, em que tudo cai bem, experimentou vários vestidos, que adoro, levou algumas coisas, como eu faria dantes, com a naturalidade de quem não tem que pensar no custo. Ofereceu-me uma bonita camisa. Bastou-me. Não sofri por mais.

Consegui mesmo pegar nalgumas malas (o grande perigo para mim), a preços realmente tentadores, e não comprar.
Não preciso nesta nova vida. Nem sei quantas carteiras, sacos, clutches, tenho. No entanto, adoptei uma velha mochila pequena da Lacoste em excelente estado reencontrada no fundo do armário que me permite andar com o essencial, a pé, sem o peso impossível da minha Longchamp verde azeitona comprada em Atenas há uns anos atrás, num dos tais “momentos de alucinação”.

Sinto que posso reinventar o modo de vestir com o muito que tenho. O excesso que tenho. Partilho este sentimento como aviso: é possível viver muito bem e ser feliz sem o último grito da moda.


6 comentários:

  1. Cristina, que bonitas e sábias palavras que terminam este texto...é completamente verdade que se pode viver muito bem e ser feliz sem o ultimo grito da moda, e melhor ainda, descobrir o que fomos juntando ao longo dos anos dentro dos armarios,( que como por milagre,) ainda continuam muito na moda, e que ainda nos fazem sorrir, e trazem boas recordaçoes...
    Um bj.

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  2. boa, bem vinda e bem vinda à "vida boa" e realmente "boa" :D

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  3. Saber reinventar o que se tem no fundo do armário é uma arte que se aprende, sempre o fiz.
    Lembro-me do tempo em que casacos, saias, colarinhos de camisas, etc eram virados para terem mais uns anos de uso com aspecto aceitável.

    ( fiquei com curiosidade de saber qual a loja com preços acessíveis que visitaste)

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  4. reinventar toilettes com o que temos passa a fazer parte de nós com muita naturalidade e sem necessidade de mostrar ao mundo que usamos "marcas"... nunca precisei de marcas nem é isso que me vai trazer PAZ e SAÚDE!
    Belo texto krida! Keep on going!

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  5. É isto mesmo, Cat. Uma forma de viver diferente. Mas nem por isso pior. :)

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