Há dias, o meu filho ligou-me
de manhã a perguntar se nessa tarde podia ir para casa dele por causa da
entrega duma encomenda. Quando lhe disse que tinha a agenda cheia de
compromissos que não podia mudar, respondeu-me “Mas não estás desempregada?!”
Estar sem emprego não é
estar sem ocupação. Ou sem trabalho.
Faz 3 meses que deixei a
empresa. Embora o contrato só acabasse no fim de Janeiro, tive dispensa de
presença. Assim, no dia seguinte, fiquei em casa. Para ser franca, não me lembro
especificamente desse dia. Provavelmente, estava muito cansada e vagueei pela
manhã.
Após 29 anos a trabalhar
sempre, talvez com uma média diária de 10h nos últimos anos, parar é muito
estranho. A reacção é parecida com a primeira semana das férias de Verão. Fica
uma espécie de vazio.
Quando fiquei nesta
situação, não quis parar. Consegui apenas desacelerar, criando um ritmo
determinado por mim. Mas não fiquei uma única manhã na cama. O que não quer
dizer que não tenha passado a levantar-me uma hora mais tarde ou a tomar o
pequeno-almoço mais demoradamente.
Não tenho feitio para me
entregar à contemplação. Uma das primeiras coisas que fiz foi um plano de
acção. Devia escrever plano de trabalho mas pode ficar de acção.
Numa folha de papel
tamanho A1 comecei a escrever e a pintar com cores diferentes tudo o que precisava
fazer em Dezembro e Janeiro. Também criei um horário diário, com períodos de
lazer e trabalho, distribuídos pelo dia, com metas semanais.
No centro da folha coloquei
como objectivo “Fechar o ciclo.
Encontrar-me.” E colei este mapa na parede da minha sala / escritório de
casa. Ali bem à vista para não deixar de o ver. Decidi que todos os dias tinha
que fazer alguma coisa concreta daquele mapa. E foi o que aconteceu!
Acho que isto foi mesmo
importante para mim. Quando estamos a tentar pôr no papel o nosso futuro
próximo, ficamos muitas vezes com espaços em branco. Desenhei um grande ponto
de interrogação à frente do número 2014. Naquele momento, era uma total
incógnita.
Mais tarde, no início de
Fevereiro, senti necessidade de fazer um novo mapa. Parte daquelas tarefas
estavam realizadas. Outra parte, transitou para o novo mapa.
Mantive como título a interrogação
sobre 2014. Continua por realizar uma viagem a um destino desejado... que ainda quero fazer este ano.
Encontrei-me ou estou a
encontrar-me a cada dia, começando a ficar claro o que quero fazer. E como
chegar lá. Tenho mais espaços vazios no novo mapa. Mas como diz uma pessoa de
que falarei mais tarde noutro texto, “o vazio atrai o cheio”.
Texto de Miguel Esteves Cardoso, Público, Setembro 2013 |