segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Impotência.

Acordo sem energia. A garganta seca, algum ardor. Resultado do comprimido que tomei ao deitar para parar o pingo no nariz que surgiu sem tréguas ao fim da tarde de ontem.

Era só o que me faltava. Tenho tanto que fazer. Como sempre. Nunca dá jeito ficar doente. Nunca é o momento certo para nos sentirmos impotentes.

Prossigo como num dia normal mas o corpo está lento e pede descanso. Resisto hesitante. E se fosse capaz de me deitar no sofá a meio da manhã e fechar os olhos? Não para dormir, apenas para dar cumprimento ao efeito do medicamento. Não o faço, claro.

Em vez disso, escrevo no caderno uma nova lista das tarefas para a semana. As minhas listas. Quase sempre maiores que o tempo disponível.

Resisto. Trato de n coisas, pagamentos, mails de resposta, agendamentos. Às 9h da manhã está quase tudo despachado, com excepção do principal. Adiado até vir a inspiração. O processo é sempre assim. Uns dias a pensar até, em pânico de última hora, tudo se resolver.

Cada vez mais difícil. Envelhecer é uma trampa. A memória falha e, sem medir, sei que estou mais demorada, menos rápida, e não mais ponderada.

Trampa pior é o que acontece pelo mundo. O dia está de um azul magnífico mas eu tenho arrepios de frio. Espreito o mar, nítido demais no horizonte, lá ao fundo depois do casario.

Leio mais notícias e artigos sobre as eleições americanas. A desgraça do Trump confirmando o destino para que caminhamos sem retorno. 

Ficámos perdidos à procura da explicação racional e lógica para explicar a vitória de tal homem.  Há discussões, acusações, análises. Na rua das cidades americanas, há manifestações de protesto que nos alumiam uma esperança mas sabemos que não serão capazes de tirar o poder ao homem.

Escolho explicações entre os meios e opinadores que sigo. Ainda assim, parecem-me frágeis para explicar tal dano. Só quero perceber o que leva alguém que votou em Obama a votar em Trump. O desespero? O medo? O futuro roubado?  

Ninguém gostava da Hilary (nem eu, para ser franca) e a culpa parece ser muito dela que não foi emocional, nem disse frases polémicas e mentirosas, tem telhados de vidro, perdoou ao marido o bóbó da história, é rica, loura, velha e gorda. E o Trump não é rico, gordo, velho e louro? Não soma uma vida de luxúria e desfaçatez? 

Faltou aos democratas, a "esquerda" americana, a capacidade de ser alternativa... e pela Europa está a acontecer o mesmo, todos sabemos. Até na pacata e mediática Lisboa saíram da toca uns seres execráveis, neo-nazis, a gritar contra os imigrantes, arrogantes, contando com costas largas à conta do horrível Trump.

Os tempos estão difíceis e em perda constante para quem é tolerante e democrata. Os direitos das minorias? A partilha? A liberdade? Parecem ridículas. 

Sinto a moleza no corpo e não sei como consigo escrever porque os braços pedem encosto. Invade-me uma imensa sensação de impotência. 

O dia azul e a lua gigante anunciada para a noite não resolvem nada. 

Os erros e os caminhos prosseguem como se o destino fosse imutável. Como se não fosse só eu a sentir um zumbido nos ouvidos que impedem o grito "Parem!" 

4 comentários:

  1. Texto muito bom...só lamento estares a " chocar"...
    As Melhoras meu amor! Ah! e faz o que o corpo te pede: descanso!
    Mts bjnhos

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  2. Aqui vai a minha opinião.
    Bom mesmo escrito no teu estado gripal.
    Só um termo dispensável...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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