sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Sexta-feira 13

Sexta-feira 13. Tenho uma amiga que diz que dá sorte e não azar. Ela lá sabe, é uma optimista, mas a verdade é que, até agora, o dia não correu mal. 

Fui caminhar ao fim da tarde. Enquanto ando, lembro-me de assuntos que gostava de partilhar, construo frases para textos que idealizo escrever um dia, observo a realidade à volta, relaxo.

Com a luz a esmorecer, o sol ainda quente bate-me nas costas. Transpiro na testa, claro. Lá se vai a lisura do meu cabelo conseguida com detalhe e secador esta manhã. Suor e humidade são a conjugação perfeita para ficar com o cabelo eriçado, se fosse só ondulado. Uma luta de sempre, perdida.

Há imensa gente dum lado para o outro, novos e velhos e médios. Oiço sobretudo espanhol e brasileiro mas também português. Ainda o ano passado atravessar a ponte pedonal junto à Torre de Belém, num dia de semana às seis da tarde, era um acto isolado que nem o das finanças. Actualmente, é preciso abrandar o passo para não tropeçar em ninguém.

No passeio à beira Tejo, junto ao padrão, até ao maat, gente e gente, em terra e no rio. Cada vez há mais barcos de todo o tipo. Bicicletas, trotinetes, coisas cujo nome ignoro, grupos. 

Voyez-vous ce palais rose là-bas? C'est le palais présidentiel, explica um sujeito para um grupo a olhar para o dito cujo, ou para o miserável espaço de pedras soltas daquilo que já foi uma calçada. A escassos metros, a rua está, desde há muito, ocupada por auto-caravanas, quase sempre de matrícula francesa ou espanhola. Um casal entardote bebe um copo de vinho junto à sua roulote, mesmo ao lado do trânsito e do barulho da avenida da Índia, instalados em duas cadeiras de praia.

Penso na diversidade do mundo, nas diferenças, na beira-rio que antes era só nossa. Gosto deste movimento na cidade. Em semanas, uma improvisada esplanada junto à estação fluvial de Belém cresceu. Hoje estava cheia de jovens castelhanos, ou seriam catalães?

Volto a pensar em como o mundo podia ser fantástico para todos. Será que aqui no nosso canto conseguiremos safar-nos dos conflitos anunciados por todo o mundo? 

Quando viro para regressar a casa já se sente fresco, uma neblina que cai sobre o rio, nada de nuvens que tragam chuva. 

Penso que gosto das notícias que ouvi sobre o orçamento de estado para 2018, será que é mesmo verdade que vão reduzir-se substancialmente os IVA e IRS para quem factura apenas 10 ou 15 mil euros por ano? Valores nem de gorjeta para os ex-donos disto tudo... 

Está quase a fazer quatro anos que saí da empresa, como o tempo passa! 

Que anos tão maus foram esses, marcados pela mesquinhez dum governo cujo primeiro-ministro e adjunta das finanças sentiam um especial prazer em humilhar e mal tratar quem estava desempregado, ou era velho ou simplesmente pobre. Sem necessidade como se vê pelo contraditório do actual governo.

Não branqueiem agora a acção devastadora para os portugueses de Passos Coelho e "sus muchachos"... Não quero esquecer nunca o mal que fizeram.

Atravesso o CCB com muito pouca luz. Ao passar numa montra quase não me reconheço com o cabelo curto. É quando me vem à memória "a vida não pára, a vida não pára"  cantado pela Lia Gama, no Fado do Kilas:

"E na roda do destino
nunca se sabe o que se nos depara
e os que ainda andam na mó de cima
têm que saber que a roda não pára
e fatalmente o fim se aproxima
a vida não pára"

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