“Viajar
Viajar es marcharse de casa,
es dejar los amigos
es intentar volar
volar conociendo otras
ramas
recorriendo caminos
es intentar cambiar.
Viajar es vestirse de loco
es decir “no me
importa”
es querer regresar.
Regresar valorando lo
poco
saboreando una copa,
es desear empezar.
Viajar es sentirse poeta,
es escribir una
carta,
es querer
abrazar.
Abrazar al llegar a
una puerta
añorando la
calma
es dejarse besar.
Viajar es volverse mundano
es conocer otra gente
es volver a
empezar.
Empezar extendiendo la
mano,
aprendiendo del
fuerte,
es sentir soledad.
Viajar es marcharse de casa,
es vestirse de loco
diciendo todo y nada
con una postal,
Es dormir en otra
cama,
sentir que el tiempo
es corto,
viajar es regressar”.
Gabriel Gárcia Márquez
Já tinha escrito um
texto quando, ontem à noite, li este poema de Gabriel Gárcia Marquez publicado no
Facebook por um português que é um grande viajante, Pedro Norton de Matos.
Li e reli, hoje pela
fresca da manhã. Está lá tudo, magnificamente dito.
Por isso, abro a
página com o poema e refaço o meu texto, reduzindo-o a umas notas pessoais
sobre viajar e férias.
Viajar em férias é
bom. Conheço quem não goste. Dá trabalho. Quantas vezes, o gozo maior não é a
preparação. Imaginar itinerários, planear visitas, descobrir o desconhecido.
Para quem tem medo de
andar de avião, como eu, quando chega a hora de partir, de fazer o raio das
malas, de tentar levar pouca coisa sem conseguir, de organizar as tralhas, não
esquecer nada, chegar a horas ao aeroporto, passar o check-in e a segurança,
penso “porque me meti nisto que estava tão sossegada em casa”.
Mas depois, chegada ao
destino, o descobrir e conhecer supera as questões logísticas. No regresso, as
recordações são apenas as coisas boas.
Gosto de ir a sítios
diferentes, com algum índice de dificuldade. Só por questões financeiras, de
tempo e do pânico de estar demasiado tempo num avião, me impedem de ir mais
longe.
Também há destinos que não me atraem e outros que atraem muito. Não sei
a razão.
Os países do
Mediterrâneo, ou na fronteira do mesmo, sempre me atraíram tal como a arte
islâmica feita de azul e verde, verde esmeralda, azul turquesa, mosaicos e
torres esguias.
Há mais de uma década,
assim que o meu filho chegou à adolescência, optei por viajar com ele em vez
das tradicionais férias no Algarve, no sítio de sempre, nas praias de sempre.
Foi assim que fizemos
algumas viagens inesquecíveis como uma a Nápoles e à costa amalfitana e outra ao
Egipto, esta a mais memorável. Ainda bem que o fizemos pois agora seria pouco
provável consegui-lo.
Permitiu-me mudar a
opinião sobre as pessoas daqueles países que não são todas fundamentalistas islâmicas
mas pessoas como nós, apenas com outra cultura e costumes.
Quando fiquei
desempregada, este Inverno, a primeira coisa que pensei foi que teria que fazer
uma viagem. Sair uns dias. Só longe, com pouco acesso à informação "tuga", de
preferência num local com uma língua imperceptível, poderia cortar realmente
com a situação vivida.
O plano era ir à
Índia, destino que está, desde sempre, nos meus desejos.
Não deu porque
convém que tal aconteça preferencialmente no nosso Inverno e as questões
processuais do desempregado funcionam como uma prisão, com apresentações e inúmeras
obrigações que tornam uns dias de afastamento do local de residência impossíveis.
Acabei por fazer algo
que nunca fizera, por questões orçamentais, viajar em grupo, por uma agência.
Destino Turquia. Istambul e um bocadinho do resto, que é imenso e rico.
Apesar de não ter usufruído
da liberdade de vaguear pelos sítios sem limites, como gosto, o balanço foi
muito positivo. Soube a pouco mas aconteceu. Fico feliz por ter conseguido
concretizar.
Talvez as dificuldades
ajudem a valorizar uma curta viagem de uma semana para um destino que merecia maior
extensão e detalhe.
Penso na facilidade que
ex-colegas e amigos têm em viajar, como eu já tive. A minha opção significou um
mês a menos de subsistência, no pior cenário.
Esta viagem e o que
conheci já ninguém me tira. A grande vantagem das viagens é essa. Podemos ficar
sem-abrigo um dia mas as memórias dos sítios que conhecemos não nos podem ser roubadas.
Apesar de o
afastamento funcionar mesmo bem para desligar do dia-a-dia, desta vez estive
demasiado perto de cenários de guerra e destruição. Olhando o mapa, quer a
norte, quer a leste ou a sul, há guerra.
Em Istambul, junto ao
Bósforo, nos jardins que ladeiam os portos e outras zonas antigas da cidade,
viam-se grupos de mulheres e crianças, alguns homens, sentados à sombra, com
grandes sacos pretos de lixo carregando o nada dos seus haveres. Refugiados da
Síria. Dos que ousaram não ficar nos campos de refugiados e tentam chegar à
Europa em busca de uma vida…
Crianças corriam e brincavam na relva, como
todas as crianças do mundo, mas estas ranhosas e descalças, aproximavam-se de nós, muito timidamente, a pedir um euro. Não dá para não ver, para não pensar que
podia acontecer connosco.
No dia do regresso,
num excelente voo da Turkish Airlines em que deu para espreitar as neves
permanentes dos Alpes, um pouco mais a norte, do outro lado do Mar Negro, um
avião igual, era abatido por um míssil.
Na Palestina, também
não muito distante, a destruição da Faixa de Gaza intensificava-se num terrível
cenário de morte.
Pensei na nossa sorte,
grata por voltar, sã e salva, ao meu país, à minha casa, à minha rua, aos meus,
em paz, "valorizando o pouco"...
Sonhando partir outra vez.
O poema lindo.
ResponderEliminarO texto muito verdadeiro,posso garantir porque tive a sorte de acompanhar a Cristina.