quarta-feira, 2 de abril de 2014

A Metamorfose

"Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de insecto."
Franz Kafka

Queria escrever sobre a oportunidade de mudança profissional que se abre às pessoas em transição e acabei a reler “A Metamorfose” de Kafka.
Esta não é apenas a história de um homem que se transforma num insecto.
Escrita em 1912, é sobretudo uma história sobre a sociedade e os comportamentos humanos. Relata o universo de um homem insatisfeito com o seu trabalho e a sua vida e como a sua transformação inesperada leva a mudanças impensáveis à sua volta…

Há uma semana estive num evento da Beside, onde pessoas em transição discutem como se comportar para sobreviver neste mundo. Quase todos foram quadros superiores de empresas com cargos de chefia e têm mais de quarenta anos. E estão em mudança...



Tenho gostado. Tenho gostado dos oradores. Alguns muito bons na forma e na mensagem, como neste último, mais uma vez, a Aida Chamiço e a finalizar o Carlos Liz, Presidente da Ipsos-Apeme.

Gostei de ser surpreendida.
O Carlos Liz defendeu que a experiência que carregamos é preciosa porque é a experiência da mudança, de quem sai de um modelo antigo para um novo. 
É um bem único, que deve ser aproveitado pela sua riqueza, uma vantagem competitiva, afinal. Uma imensa oportunidade para os mais velhos por viverem a trajectória da História. Ou seja, esta deve ser uma vantagem competitiva sobre os mais novos que não puderam viver outros tempos, outros modos de funcionar.


Filtro Tint sobre desenho de José Mateus

Entretanto, passei os últimos dias a preparar uma apresentação sobre “como transformar uma organização numa marca”, tirando partido dos recentíssimos suportes de comunicação digital. Comunicar doutra forma tirando partido de suportes impensáveis há pouco tempo, sendo estes fantásticos facilitadores da transmissão da mensagem.

Só não funciona se não existir um bom conteúdo. Mas o caso em que estive a trabalhar tem uma excelente matéria-prima, parada, à espera de ser ultrapassada pela concorrência, num ápice. O que, aliás, já acontece.

Uma oportunidade para fazer diferente. 

Agora que estou em casa mais tempo, ligo a televisão pelas 20h para ouvir os telejornais. Já falei disto. Os alinhamentos são rigorosamente iguais e depressivos. A fraqueza dos conteúdos que massacram infinitamente os mesmos temas, apresentados da mesma forma, é uma tristeza.
Ainda ontem, estava na cozinha a lavar legumes para fazer sopa, e ouvia alguma coisa do que se dizia na sala. Qualquer um ficaria suicida,  a seguir.
Os jornalistas e editores da informação dos canais generalistas desperdiçam outros modos de contar a história. Será apenas preguiça, desmotivação, facilitismo, falta de visão? Parece-me que podiam inovar e aproveitar o momento para se diferenciar. Podiam chegar às pessoas com os mesmos temas doutra maneira. Um bom exemplo é o “Sexta às 9” na RTP 1. Faz a diferença.

Até há poucos meses, não tinha tempo para ler, estudar e pensar por mim. Via coisas como problemas insolúveis que agora vejo como uma extraordinária oportunidade para fazer diferente. 




A vida é mesmo complicada, não é? Ando cheia de ideias em que começo a acreditar com a crença dos fanáticos religiosos mas poderei não ter oportunidade de as aplicar.


Isto das oportunidades aplica-se a todos. Conheci uma jovem com quem colaborei a propósito da sua tese de mestrado sobre storytelling. Voltámos a encontrar-nos no início deste ano. A jovem escreve e pensa bem, podia trabalhar onde quisesse, digo eu. Mas persiste no seu caminho de aprofundar os estudos e criar os seus próprios conceitos e caminhos. Tem 25 anos, profundidade e aparência. Será que, mais tarde, vai ter oportunidade de aplicar/fazer?

Volto à metamorfose. Já acordámos insectos mas não o sabemos.


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